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7 de nov. de 2012

* Por Que Amamos?


Trecho do livro "Por que Amamos" , de Helen Fisher


"O mundo, para mim, e tudo que ele abarca
É cercado por teus braços; para mim ali jaz,
Nas luzes e sombras de teus olhos,
A única beleza que jamais envelhece."
( James Weldon Johnson - autor de "A beleza que jamais envelhece"*)


"O fogo atravessa meu corpo — a dor de amar a ti. A dor atravessa meu corpo com as chamas de meu amor por ti. A enfermidade ronda meu corpo com meu amor por ti. A dor como de uma pústula prestes a se romper com meu amor por ti. Consumido pelo fogo de meu amor por ti. Lembro-me do que disseste a mim. Estou pensando em teu amor por mim. Eu me dilacero por teu amor por mim. Dor e mais dor. Para onde vais com meu amor? Disseram-me que ias partir. Disseram-me que me deixarias aqui. Meu corpo está entorpecido de pesar. Lembra-te do que eu disse, meu amor. Adeus, meu amor, adeus."1 Assim falou um índio kwakiutl do sul do Alasca em seu poema arrebatador, transcrito da língua nativa em 1896.

Quantos homens e mulheres amaram-se em todas as épocas que antecederam a mim e a você? Quantos de seus sonhos foram realizados; quantas de suas paixões desperdiçadas? Com freqüência, quando caminho ou me sento para meditar, maravilho-me com todos os casos de amor que este planeta absorveu. Felizmente, homens e mulheres de todo o mundo nos deixaram muitas provas de sua vida romântica.

De Uruk, um sumério antigo, chegam poemas em tábuas cuneiformes que saúdam a paixão de Inanna, rainha da Suméria, por Dumuzi, um pastor. "Meu amado, o deleite de meus olhos", lamenta Inanna para ele mais de quatro mil anos atrás.2

Os textos védicos e outros textos indianos, os mais antigos datando de 1000 e de 700 a.C., falam de Shiva, o mítico Senhor do Universo, que se apaixonou por Sati, uma jovem indiana. O deus reflete que "viu Sati e a si mesmo no pináculo de uma montanha/ enlaçados em amor".3

Para alguns, a felicidade jamais chegaria. Assim foi para Qays, filho de um chefe tribal na antiga Arábia. Uma lenda árabe, datando do século VII d.C., diz que Qays era um rapaz bonito e brilhante — até conhecer Laila, que significa "noite", devido a seus cabelos pretos como azeviche.4 Qays ficou tão inebriado que um dia saltou de sua carteira escolar para correr pelas ruas gritando o nome dela. Desde então ele ficou conhecido como Majnun, ou louco. Logo Majnun começou a vagar pelas areias do deserto, morando em cavernas com os animais, cantando versos a sua amada, enquanto Laila, enclausurada na tenda do pai, escapulia à noite para atirar bilhetes de amor ao vento. Um transeunte solidário levaria estes apelos ao jovem poeta desgrenhado e seminu. Sua paixão mútua por fim levaria à guerra entre as duas tribos — e à morte dos amantes. Só o que restou foi esta lenda.

Meilan também sobreviveu à própria morte. Na fábula chinesa do século XII d.C. "A Deusa de Jade", Meilan era a filha mimada de 15 anos de um alto funcionário de Kaifeng — até se apaixonar por Chang Po, um rapaz vivaz com dedos longos e finos e um dom para entalhar o jade. "Desde que céu e terra foram criados, você foi feita para mim e eu fui feito para você e não a deixarei partir", declarou Chang Po a Meilan certa manhã no jardim da família dela.5 Mas estes amantes eram de classes diferentes na rígida hierarquia social da China. Desesperados, eles fugiram — e logo foram encontrados. Ele escapou. Ela foi enterrada viva no jardim do pai. Mas a história de Meilan ainda assombra a alma de muitos chineses.

Romeu e Julieta, Páris e Helena, Orfeu e Eurídice, Abelardo e Heloísa, Tróilo e Créssida, Tristão e Isolda: milhares de poemas, canções e histórias românticas atravessaram séculos, vindos da Europa ancestral, bem como do Oriente Médio, do Japão, China, Índia e de cada sociedade que deixou registros escritos.

Mesmo quando não possuem documentos escritos, os povos deixaram evidências de sua paixão. Na verdade, em um levantamento de 166 culturas variadas, antropólogos encontraram provas do amor romântico em 147, quase 90% delas.6 Nas 19 sociedades restantes, os cientistas simplesmente não conseguiram examinar este aspecto da vida das pessoas. Mas da Sibéria ao interior da Austrália e à Amazônia, as pessoas cantavam canções, compunham poemas de amor e contavam mitos e lendas do amor romântico. Muitas fazem a magia do amor — levando amuletos e encantamentos ou servindo condimentos ou preparados para estimular o ardor romântico. Alguns matam os amantes. Outros se matam. Muitos adoecem de uma tristeza tão profunda que mal podem comer ou dormir.

A partir da leitura de poemas, canções e histórias de povos de todo o mundo, passei a acreditar que a capacidade para o amor romântico está firmemente entrelaçada no tecido do cérebro humano. O amor romântico é uma experiência humana universal.

O que é este sentimento volátil, com freqüência incontrolável, que se apodera da mente, trazendo alegria em um momento e desespero no outro?7

O estudo do amor

"Oh, diga-me a verdade sobre o amor", exclamou o poeta W. H. Auden. Para entender o que realmente leva a esta profunda experiência humana, investiguei a literatura psicológica sobre o amor romântico, selecionando aquelas características, sintomas ou problemas físicos que foram repetidamente mencionados. Não é de surpreender que este poderoso sentimento seja um complexo de muitas características específicas.8

Depois, para me convencer de que estas características da paixão romântica são universais, eu as usei como a base para um questionário que planejei sobre o amor romântico. E com a assistência de Michelle Cristiani, na época aluna de pós-graduação na Universidade Rutgers, e da Dra. Mariko Hasagawa e do Dr. Toshikazu Hasagawa, da Universidade de Tóquio, distribuí este levantamento entre homens e mulheres na Universidade Rutgers, em Nova Jersey, e na Universidade de Tóquio.

A pesquisa começava: "Este questionário trata de ‘estar amando’, as sensações de estar enfeitiçado, apaixonado, ou ter uma forte atração romântica por alguém.

"Se você não está atualmente ‘amando’ alguém, mas se sentiu muito apaixonado por alguém no passado, por favor responda às perguntas com esta pessoa em mente." Os participantes eram depois indagados sobre várias questões demográficas, idade, situação financeira, religião, etnia, orientação sexual e estado civil. Também perguntei sobre seus casos de amor. Entre as perguntas: "Quanto tempo você ficou apaixonado?" "Qual o percentual diário, em média, que você pensa nesta pessoa?" E "Você às vezes se sente como se seus sentimentos estivessem fora de seu controle?"

Depois vinha o corpo do questionário (ver Apêndice). Continha 54 afirmativas, como: "Tenho mais energia quando estou com ______." "Meu coração dispara quando ouço a voz de _______ ao telefone." E "Quando estou em aula/no trabalho, minha mente vagueia para _______." Elaborei estas perguntas para que refletissem as características mais comumente associadas com o amor romântico. Os participantes tinham de indicar a que ponto concordavam com cada pergunta numa escala de sete pontos que ia de "discordo enfaticamente" a "concordo enfaticamente". Um total de 437 americanos e 402 japoneses responderam ao questionário. Depois os estatísticos MacGregor Suzuki e Tony Oliva reuniram os dados e fizeram uma análise estatística.

Os resultados foram assombrosos. Idade, gênero, orientação sexual, afiliação religiosa, grupo étnico: nenhuma destas variáveis humanas fizeram muita diferença nas respostas.

Por exemplo, pessoas de diferentes grupos etários responderam, sem nenhuma diferença estatística significativa, a 82% das afirmativas. As pessoas com mais de 45 anos relataram estar tão apaixonadas quanto aquelas que tinham menos de 25 anos. Heterossexuais e homossexuais deram respostas semelhantes em 86% das questões. Em 87% das perguntas, os homens e mulheres americanos responderam praticamente da mesma forma: havia poucas diferenças de gênero. Americanos "brancos" e "outros" responderam similarmente em 82% das perguntas: a raça quase não tinha importância no ardor romântico. Católicos e protestantes não exibiram variação significativa em 89% das afirmativas: a afiliação a igrejas não tinha importância. E quando os grupos mostraram diferenças "estatisticamente significativas" em suas respostas, em geral um grupo era um pouco mais apaixonado do que o outro.

As maiores diferenças estavam entre os americanos e os japoneses. Em mais de 43 questões onde mostraram variações estatísticas significativas, uma nacionalidade simplesmente expressou uma paixão romântica um pouco maior. E todas as 12 perguntas que mostravam diferenças drásticas pareciam ter explicações culturais óbvias. Por exemplo, somente 24% dos americanos concordaram com a afirmativa: "Quando estou falando com _____, com freqüência tenho medo de dizer alguma coisa errada", enquanto colossais 65% de japoneses concordaram com esta declaração. Suspeito que esta variação específica tenha ocorrido porque os jovens japoneses em geral têm relações mais formais com o sexo oposto do que os americanos. Assim, considerando tudo, nestas duas sociedades muito diferentes, homens e mulheres eram muito semelhantes em seus sentimentos de paixão romântica.

Amor romântico. Amor obsessivo. Amor apaixonado. Paixão. Chame como quiser, homens e mulheres de cada época e cultura foram "enfeitiçados, amolados e aturdidos" por este poder irresistível. Estar apaixonado é universal à humanidade; faz parte da natureza humana.9

Além disso, esta magia ataca a cada um de nós praticamente da mesma maneira.

"Significado especial"

Uma das primeiras coisas que acontecem quando você se apaixona é que você vive uma mudança drástica na consciência: seu "objeto de amor" assume o que os psicólogos chamam de "significado especial". Seu amado torna-se singular, único e sumamente importante. Como disse um enamorado, "Todo o meu mundo se transformou. Eu tinha um novo centro, e este centro era Marylin".10 Romeu, de Shakespeare, expressou este sentimento mais sucintamente, dizendo de sua adorada: "Julieta é o Sol".

Antes que o relacionamento se desenvolva para o amor romântico, você pode se sentir atraído por vários indivíduos diferentes, voltando sua atenção para um, depois para outro. Mas por fim você começa a concentrar a paixão em apenas um. Emily Dickinson chamou este mundo particular de "o reino do você".

Este fenômeno está relacionado com a incapacidade humana de sentir paixão romântica por mais de uma pessoa ao mesmo tempo. Em meu levantamento, 79% dos homens e 87% das mulheres disseram que não iriam a um encontro amoroso com outra pessoa se seu amado não estivesse disponível (Apêndice, nº 19).

Atenção concentrada

A pessoa possuída pelo amor concentra a atenção quase completamente no amado, com freqüência em detrimento de tudo e todos em torno dela, inclusive trabalho, família e amigos. Ortega y Gasset, o filósofo espanhol, chama isto de "um estado anormal de atenção que ocorre em um homem normal". Esta atenção concentrada é um aspecto essencial do amor romântico.

Homens e mulheres apaixonados também se concentram em todos os acontecimentos, canções, cartas e outras coisinhas que eles associaram com o amado. O tempo que parou no parque para mostrar a ela uma flor; a noite em que ela atirou limões para ele preparar as bebidas: para o possuído pelo amor, estes momentos casuais estão vivos. Setenta e três por cento dos homens e 85% das mulheres em meu levantamento lembraram-se de coisas banais que seu amado disse e fez (Apêndice, nº 46). E 83% dos homens e 90% das mulheres reprisam estes episódios preciosos em sua mente enquanto refletem sobre seus amados (Apêndice, nº 52).

Bilhões de outros amantes provavelmente sentiram um surto de ternura quando pensaram nos momentos passados com um namorado. Um exemplo asiático tocante disto vem de um poema chinês do século IX, "A Esteira de Bambu", de Yuan Chen. Chen angustiou-se: "Não suporto guardar/ a esteira de bambu:/ na noite em que te trouxe para casa,/ eu te vi desenrolá-la."11 Para Chen, um objeto cotidiano tinha adquirido um poder icônico.

O conto do século XII, Lancelot, de Chrétien de Troyes, ilustra este mesmo aspecto da paixão romântica. Neste épico, Lancelot encontra o pente da rainha Guinevere na estrada depois que ela e seu cortejo passam. Vários de seus cabelos dourados estão emaranhados nos dentes. Como escreveu de Troyes, "Ele começou a adorar os cabelos dela; mil vezes ele os tocou com os olhos, a boca, a testa e a face".12

Engrandecendo o amado

O apaixonado também começa a superdimensionar, até a exagerar aspectos minúsculos do adorado. Se pressionados, quase todos os amantes podem relacionar as coisas de que não gostam em seu amor. Mas eles deixam estas percepções de lado ou se convencem de que os defeitos são únicos e encantadores. "Assim os amantes governam a causa de sua paixão/ para amar suas damas por suas falhas", refletiu Molière. Concordo. Alguns chegam a adorar seus amados por seus defeitos.

E os amantes idolatram as qualidades positivas de seus amados, desprezando flagrantemente a realidade.13 É a vida através de lentes cor-de-rosa, o que os psicólogos chamam de "efeito da lente cor-de-rosa". Virginia Woolf descreveu vividamente esta miopia ao dizer: "Mas o amor (...) é apenas uma ilusão. A história que alguém compõe mentalmente sobre outra pessoa. E sabe-se o tempo todo que não é verdade. É claro que se sabe; por que o eterno acalentar não destrói a ilusão".

Nossa amostra de americanos e japoneses certamente ilustra este efeito da lente cor-de-rosa. Cerca de 65% dos homens e 55% das mulheres no levantamento concordaram com a afirmativa: "______ tem alguns defeitos, mas eles não me incomodam de jeito nenhum" (Apêndice, nº 3). E 64% dos homens e 61% das mulheres concordaram com a afirmativa: "Eu amo tudo em ______" (Apêndice, nº 10).

Como nos iludimos quando amamos. Chaucer estava certo: "O amor é cego."

"Pensamento intrusivo"

Um dos principais sintomas do amor romântico é a meditação obsessiva sobre o amado. É conhecida pelos psicólogos como "pensamento intrusivo". Você simplesmente não consegue tirar o amado da cabeça.

Exemplos de pensamento intrusivo abundam na literatura mundial. O poeta chinês do século IV, Tzu Yeh, escreveu: "Como posso não pensar em ti...".14 Um poeta japonês do século VIII lamentou: "Meu desejo não tem tempo, embora cesse". Giraut de Borneil, um trovador da França do século XII, cantou: "Por amar demais (...) Tão terrivelmente meus pensamentos me atormentam".15 E o nativo maori da Nova Zelândia expressou seu sofrimento com estas palavras: "Deito-me acordado toda noite,/ Para o amor me pilhar em segredo."

Mas talvez o exemplo mais admirável de pensamento intrusivo venha da obra-prima medieval de Wolfram von Eschenbach, Parzival. Nesta história, Parzival estava a meio galope em seu corcel quando viu três gotas de sangue na neve de inverno, vertido por um pato selvagem que tinha sido ferido por um falcão. Isto o recordou da tez carmim e alabastro de sua esposa, Condwiramurs. Petrificado, Parzival senta-se em contemplação, congelado em seus estribos. "E assim ele refletiu, perdido em pensamentos, até que seus sentidos/ desertaram-no. O poderoso amor o fez escravo."16

Infelizmente, Parzival segurava sua lança erguida — um sinal cavalheiresco de desafio. Logo depois, cavaleiros que estavam acampados em uma campina próxima com o rei Artur perceberam e galoparam para um combate com ele. Foi somente quando os seguidores de Parzival colocaram um cachecol sobre as gotas de sangue que ele se sacudiu de seu transe de amor, abaixou a arma e evitou uma batalha mortal.

Poderoso é o amor. Não é de surpreender que 79% dos homens e 78% das mulheres em meu levantamento tenham relatado que quando estão em aula ou no trabalho sua mente se volta continuamente para o amado (Apêndice, nº 24). E 47% dos homens e 50% das mulheres concordaram que "Não importa por onde comece, minha mente sempre termina pensando em ______" (Apêndice, nº 36). Outras pesquisas relatam descobertas semelhantes. Os participantes dizem que pensam em seu "objeto de amor" por mais de 85% das horas de vigília.17

Como Milton foi perspicaz em Paraíso perdido ao colocar Eva dizendo a Adão: "Contigo conversando, esqueço-me de todo o tempo".

Fervor emocional

Dos 839 participantes americanos e japoneses de meu levantamento do amor romântico, 80% dos homens e 79% das mulheres concordaram com a declaração: "Quando tenho certeza de que _____ está apaixonado por mim, me sinto mais leve do que o ar" (Apêndice, nº 32).

Nenhum aspecto isolado de "estar apaixonado" é tão familiar ao amante do que a torrente de emoções intensas que inundam sua mente. Alguns se tornam dolorosamente envergonhados ou desastrados quando na presença do amado. Alguns ficam pálidos. Alguns ruborizam. Alguns tremem. Outros gaguejam. Alguns suam. Alguns ficam com os joelhos frouxos, sentem-se tontos, ou têm "borboletas no estômago". Outros relatam uma respiração acelerada. E muitos dizem sentir o coração em brasa.

Catulo, o poeta romano, certamente foi arrebatado. Escrevendo para sua amada, ele disse: "Você me enlouquece./ Ver você, Minha Lésbia, tira-me o fôlego./ Minha língua congela, meu corpo/ enche-se de chamas".18 Ono No Komachi, uma poetisa japonesa do século IX, escreveu: "Deito-me desperta, quente/ as chamas crescentes da paixão/ explodindo, inflamando meu coração".19 A mulher do Cântico dos Cânticos, a carta de amor hebreu composta entre 900 e 300 a.C., lamentava: "Desfaleço de amor".20 E o poeta americano Walt Whitman descreveu este turbilhão emocional perfeitamente, ao dizer: "Esta furiosa tempestade galopa por mim — tremo apaixonadamente".21

Os amantes cavalgam um jaguar de contentamento tão veloz que muitos acham difícil comer ou dormir.



Energia intensa

A perda de apetite e sono tem uma relação direta com outra das sensações esmagadoras do amor: uma enorme energia. Como disse a um antropólogo um jovem da ilha de Mangaia, no Pacífico Sul, quando pensava em sua amada ele "se sentia como se saltasse no céu!"22 Sessenta e quatro por cento dos homens e 68% das mulheres de nosso levantamento também relataram que o coração acelerava quando ouviam a voz do amado ao telefone (Apêndice, nº 9). E 77% dos homens e 76% das mulheres disseram ter uma explosão de energia quando estavam com o amado (Apêndice, nº 17).

Bardos, menestréis, poetas, dramaturgos, romancistas: homens e mulheres cantaram por séculos esta química energizante, bem como a gagueira desconcertante e o nervosismo, o coração martelando e a falta de fôlego que podem acompanhar o amor romântico. Mas de todos os que discutiram este pandemônio físico e psíquico, ninguém foi tão ilustrativo como Andreas Capellanus, ou André Capelão, um erudito francês da década de 1180 que circulava nas altas rodas cortesãs e escreveu Tratado do amor cortês, um clássico literário de todos os tempos.

Foi naquele século que surgiu a tradição do amor cortês na França. Este código prescrevia a conduta do amante em relação à amada. O amante era freqüentemente um trovador — um poeta muito culto, músico e cantor, com freqüência das fileiras da cavalaria. Em muitos casos sua amada era uma mulher casada com o senhor de uma família distinta da Europa. Estes trovadores compunham e depois cantavam versos muito românticos para idolatrar e lisonjear a senhora da casa.

Todavia esperava-se que aqueles "romances" fossem castos — e observassem rigidamente os códigos complexos da conduta cavalheiresca. Assim, em seu livro, Capelão codificou as regras do amor cortês. Sem saber, ele também relacionou muitas das principais características do amor romântico, entre elas a turbulência interior do amante. Como ele expressou adequadamente, "ao ter um vislumbre súbito de sua amada, o coração do amante começa a palpitar". "Todo amante regularmente empalidece na presença de sua amada."23 E "Um homem atormentado pelo pensamento do amor come e dorme muito pouco".24

O clérigo sofisticado também falou do pensamento intrusivo que vivem os amantes, declarando: "tudo o que um amante faz termina na idéia de sua amada". E "Um verdadeiro amante está contínua e ininterruptamente obcecado pela imagem da amada". Ele também reconheceu claramente que o amante concentra toda sua atenção em uma só pessoa quando ama, ao dizer: "Ninguém pode amar duas pessoas ao mesmo tempo".25

Os aspectos fundamentais do amor romântico não mudaram em quase mil anos.

Oscilações de humor: do êxtase ao desespero

"Ele deriva pela água azul/ sob a lua clara,/ pegando lírios brancos no Lago Sul./ Cada flor de lótus/ fala de amor/ até seu coração se despedaçar."26 Para o poeta chinês do século VIII Li Po, o romance era doloroso.

As sensações do amor vão às alturas e despencam. Se o amado inunda o amante de atenção, se ele liga regularmente, escreve
e-mails afetuosos ou se une ao amante para uma tarde ou noitinha de comida e diversões, o mundo irradia. Mas se o adorado parece indiferente, aparece tarde ou sequer aparece, deixa de responder aos e-mails, telefonemas ou cartas, ou manda algum sinal negativo, o amante começa a se sentir desesperado. Apáticos, deprimidos, estes galanteadores ficam melancólicos até que consigam explicar satisfatoriamente seus atos, aliviar seus corações menosprezados e renovar a caça.

A paixão romântica pode produzir uma variedade de mudanças estonteantes de humor que vão da exultação, quando o amor é retribuído, à ansiedade, desespero ou até raiva quando o ardor romântico é ignorado ou rejeitado. Como coloca o escritor suíço Henri Frederic Amiel, "Quanto mais um homem ama, mais ele sofre". Os povos tâmeis do sul da Índia chegam a ter um nome para esta enfermidade. Eles chamam este estado de sofrimento amoroso de "mayakkam", que significa intoxicação, tonteira e ilusão.

Não chega a me surpreender que 72% dos homens e 77% das mulheres em meu levantamento discordem da afirmativa: "O comportamento de ______ não tem nenhum efeito sobre meu bem-estar emocional" (Apêndice, nº 41). E 68% dos homens e 56% das mulheres apóiam a afirmativa: "Meu estado emocional depende de como _______ se sente em relação a mim" (Apêndice, nº 37).

O desejo de união emocional

"Venha a mim em meus sonhos, e então/ De dia eu estarei novamente bem./ Pois assim a noite compensará/ o desejo desesperançado do dia".*27 Os amantes anseiam por união emocional com um amado, como sabia o poeta Matthew Arnold.28 Sem esta conexão com um amado, eles se sentem incompletos ou vazios, como se lhes faltasse uma parte essencial de si mesmos.

Esta necessidade assoberbante de união emocional, tão característica do amante, é memoravelmente expressa em O banquete, o relato de Platão de um jantar em Atenas em 416 a.C. Nesta noite festiva, algumas das mentes mais brilhantes da Grécia clássica reuniram-se para jantar na casa de Agaton. Enquanto se reclinam em seus divãs, um convidado propõe que se divirtam com um tópico de discussão, apenas esportivamente: cada um deles deveria descrever e louvar o Deus do Amor.

Todos concordaram. A flautista foi dispensada. Depois, um por um, eles usaram sua vez para louvar o Deus do Amor. Alguns consideraram esta figura sobrenatural a mais "antiga", a mais "honrada" ou a menos "preconceituosa" de todos os deuses. Outros sustentaram que o Deus do Amor era "jovem", "sensível", "poderoso" ou "bom". Mas não Sócrates. Ele começou sua homenagem contando o diálogo que teve com Diotima, a esposa sábia de Mantinea. Falando do Deus do Amor, ela disse a Sócrates: "Ele sempre vive em um estado de necessidade".29

"Um estado de necessidade." Talvez nenhuma expressão em toda a literatura tenha apreendido com tanta clareza a essência do amor romântico apaixonado: Necessidade. Em meu levantamento, 86% dos homens e 84% das mulheres concordaram com a afirmativa: "Eu espero de todo coração que _______ esteja tão atraído(a) por mim como estou por ele/ela" (Apêndice, nº 30).

Este desejo de se fundir com o amado permeia a literatura mundial. O poeta romano do século VI d.C. Paulo Silentiarius escreveu: "E ali repousam os amantes, os lábios selados/ delirantes, infinitamente sedentos,/ cada um deles esperando para entrar completamente no outro".30 Yvor Winters, poeta americano do século XX, escreveu: "Possam nossos sucessores nos selar em uma só urna,/ Um só espírito nunca retorna".*31 E Milton expressou isto perfeitamente em Paraíso perdido quando Adão diz a Eva: "Nós somos um,/ Uma carne; perder-te é perder a mim mesmo".

O filósofo Robert Solomon acredita que este desejo intenso é a principal razão para o amante dizer "eu te amo". Isto não é uma declaração do fato, mas um pedido de confirmação. O amante quer ouvir aquelas poderosas palavras, "eu também te amo".32 Tão profunda é esta necessidade de união emocional com o amado que os psicólogos acreditam que o senso de identidade do amante se tolda. Como disse Freud, "A esta altura, o estado de ser no amor ameaça obliterar as fronteiras entre ego e objeto".

A romancista Joyce Carol Oates apreendeu vividamente esta sensação de jubilosa fusão quando escreveu: "Se eles se virarem de repente para nós, recuaremos/ a pele se arrepia úmida, sutilmente/ seremos rasgados em duas pessoas?"

À procura de pistas

Quando os amantes não sabem se seu amor é apreciado e retribuído, eles se tornam hipersensíveis aos sinais enviados pelo adorado. Como escreveu Robert Graves, "Ouvindo uma batida na porta, esperando por um sinal". Em meu levantamento, 79% dos homens e 83% das mulheres relataram que quando se sentem fortemente atraídos por alguém, dissecam os atos do amado, procurando por pistas sobre seus sentimentos em relação a ele (Apêndice, nº 21). E 62% dos homens e 51% das mulheres disseram que às vezes procuraram por significados alternativos para as palavras e gestos do amado (Apêndice, nº 28).

Mudança de prioridades

Muitos apaixonados também mudam o estilo do guarda-roupa, os maneirismos, os hábitos, às vezes até os valores para conquistar o ser amado. Um novo interesse por golfe, aulas de tango, colecionar antigüidades, um novo corte de cabelo, Mozart em vez de música country, até se mudar para uma nova cidade ou dar início a uma nova carreira: homens e mulheres fisgados pelo amor formam todo tipo de novos interesses, crenças e estilos de vida para agradar aos seus amados.

O campeão do amor cortesão do século XII, André Capelão, resumiu este impulso escrevendo as palavras: "O amor não pode negar nada ao amor".33 Enquanto um americano embriagado de amor coloca isso rudemente: "O que quer que ela gostasse, eu gostava".34 Ele era um entre muitos. Setenta e nove por cento dos americanos e 70% das americanas em nosso levantamento concordaram com a afirmativa: "Gosto de manter minha programação em aberto para o caso de ______ estar livre e podermos nos ver" (Apêndice, nº 47).

Os amantes reorganizam a vida para acomodar o ser amado.

Dependência emocional

Os amantes também se tornam dependentes do relacionamento, muito dependentes. Como o Marco Antônio de Shakespeare declarou a Cleópatra, "Tinha eu o coração atado por fios a teu leme". Um antigo poema hieroglífico egípcio descrevia a mesma dependência ao dizer: "Meu coração é um escravo/ se ela me abraça".35 O trovador do século XII Arnaut Daniel escreveu: "Sou dela da cabeça aos pés".36 Mas Keats foi o mais apaixonado, escrevendo: "Em silêncio, para ouvir teu terno respirar,/ E assim viver para sempre — ou desvanecer até a morte".*

Como os amantes são tão dependentes de um amado, eles sofrem uma terrível "ansiedade de separação" quando não estão em contato. Um poema japonês, escrito no século X, padece deste desespero. "A manhãzinha cintila/ no brilho difuso/ da primeira luz. Sufocado de tristeza,/ Eu te ajudo com tuas roupas."37

Os amantes são marionetes que balançam das cordas do coração do outro.

Empatia

Conseqüentemente, os amantes sentem uma enorme empatia pelo amado. Em meu levantamento, 64% dos homens e 76% das mulheres concordaram com a afirmativa: "Fico feliz quando _____ está feliz e triste quanto ele/ela está triste" (Apêndice, nº 11).

O poeta e. e. cummings escreveu encantadoramente sobre isso, dizendo: "ela ria sua alegria ela chorava sua tristeza". Muitos amantes chegam a se dispor a se sacrificarem por seu amado. Talvez o sacrifício de Adão por Eva seja a oferta mais dramática de toda a literatura universal. Como Milton a descreveu, depois de descobrir que Eva havia comido da maçã proibida, Adão decide comer ele mesmo da maçã — o que ele sabe que levará à expulsão deles do Jardim do Éden e à morte. Adão diz: "pois contigo/ por certo minha resolução é morrer".38

A adversidade aumenta a paixão

A adversidade com freqüência alimenta a chama. Chamo este curioso fenômeno de "frustração-atração", mas é mais conhecido como "efeito Romeu e Julieta". Os obstáculos sociais ou físicos acendem a paixão romântica.39 Permitem que a realidade seja descartada e que nos concentremos nas enormes qualidades do outro. Até as discussões ou rompimentos temporários podem ser estimulantes.

Um dos exemplos mais divertidos da literatura de como a adversidade aumenta o romance é a peça de um ato de Tchekov, O urso.40

Neste drama, um proprietário de terras mal-humorado, Grigori Stepanovitch Smirnov, aparece na casa de uma jovem viúva para pegar um dinheiro que o marido morto devia a ele. A mulher se recusa a pagar um cópeque que seja. Ela está de luto, explica, e grita bruscamente para ele: "Não estou com espírito para me preocupar com questões monetárias". Isto lança Smirnov num discurso contra todas as mulheres — chamando-as de hipócritas, falsas, cruéis e ilógicas. "Brrrr!", ele diz com veemência, "Tremo de fúria". A raiva dele incita a dela e eles começam a trocar insultos aos gritos. Logo ele apela para um duelo. Aflita para fazer um buraco na cabeça dele, a viúva pega as pistolas do marido morto e eles tomam posições.

Mas à medida que o rancor cresce, aumenta também o respeito mútuo — e a atração. De repente Smirnov exclama: "Agora, isto é que é mulher! Eu bem vejo! Uma mulher de verdade! Não é uma choramingas, não é uma covarde, é um meteoro, um foguete, é uma arma de fogo! É uma vergonha ter de matá-la!" Um minuto depois ele declara um amor imortal e pede a ela que seja esposa dele. Quando os criados dela correm para a sala para defender sua senhora com machados, ancinhos e forcados, tropeçam nos amantes — empolgados num abraço louco.

Esta estranha relação entre a adversidade e o ardor romântico é vital em todos os amantes das grandes lendas do mundo. Se incitados por dificuldades de um ou outro tipo, eles só se amam ainda mais.

A história ocidental mais conhecida desse tipo, é claro, é a tragédia de Shakespeare Romeu e Julieta. Aqueles jovens amantes da Verona do século XVI são apanhados em uma disputa amarga entre duas poderosas famílias, os Montéquio e os Capuleto. Romeu é um Montéquio, Julieta uma Capuleto. Todavia Romeu se apaixona por Julieta no momento em que a vê em uma festa da família, exclamando: "Oh, ela ensina o archote a luzir!/ Conheceria meu coração até hoje o amor? Abjure-o, olhe!/ Nunca soube até esta noite o que era a beleza".41 Julieta também sucumbe à flecha do Cupido. Quando Romeu parte do banquete, ela pergunta à ama: "Vai perguntar como se chama. Se for casado,/ Meu túmulo será meu leito nupcial".42 A peça se desenrola numa série de obstáculos e confusões que só intensificam a paixão dos dois.

Sessenta e cinco por cento dos homens e 73% das mulheres em meu levantamento concordaram com a afirmativa: "Eu nunca desisto de amar _____, mesmo quando as coisas ficam ruins" (Apêndice, nº 26). E 75% dos homens e 77% das mulheres concordaram com a afirmativa: "Quando o relacionamento com _____ tem um contratempo, eu me esforço mais para que as coisas dêem certo" (Apêndice, nº 6).

Um dos resultados inesperados de meu levantamento quase certamente pode ser atribuído ao papel da adversidade no amor. Os participantes homossexuais, tanto homens como mulheres, relataram mais turbilhão emocional do que os heterossexuais. Estes indivíduos eram mais atormentados pela insônia, perda de apetite e o desejo de união emocional com um amado. Acho que este sofrimento físico ocorre, pelo menos em parte, devido aos obstáculos sociais que devem ser superados por muitos amantes homossexuais.

Os que responderam a meu questionário enquanto pensavam num ex-amante também pareciam mais frágeis emocionalmente. Também eles tiveram dificuldades para comer e dormir. Ficavam mais tímidos e desajeitados perto de seu antigo amado. Sofriam mais de "pensamento intrusivo" e mais oscilações de humor. E com mais freqüência relataram ter um coração acelerado quando pensavam em sua antiga chama. Suspeito de que muitos destes participantes foram rejeitados pelo ser amado — e esta adversidade aumentou seu ardor romântico.

Como barcos a remo em um mar turbulento, homens e mulheres viajam pelas ondas da angústia e da alegria que são o amor romântico. E os obstáculos intensificam estas emoções. Se seu amado é casado com outra pessoa, se ele mora em outro continente, se vocês falam línguas diferentes, provêm de grupos étnicos diferentes ou de diferentes partes da cidade, este obstáculo pode aumentar a paixão romântica. Dickens disse sobre isso: "O amor com freqüência cresce de forma mais abundante na separação e sob as circunstâncias mais difíceis". É bem verdade.

Esperança

"Digamos que eu pudesse viver em esperança", argumenta o rei Pirro com Andrômaca no drama de amor e morte de Racine. Por que os amantes devem continuar a ter esperança, mesmo quando os dados lançados pela vida saem incansavelmente contra eles? A maioria ainda espera que o relacionamento renasça — até anos depois de ter terminado amargamente. A esperança é outra característica predominante do amor romântico.

Um poema encantador do século XVI, de Michael Drayton, expressa este otimismo. Ele começa: "Como não há remédio, vem, beijemo-nos e digamos adeus!/ Não, nada mais tenho, não terás mais nada de mim;/ E estou feliz, sim, de todo coração,/ Por me libertar assim tão honestamente/ Eternos apertos de mãos, anulem-se os votos;/ E quando nos reencontrarmos um dia,/ Que não se veja em teu semblante,/ que resta um mínimo de amor em nós". Com estas palavras Drayton declara, com aparente confiança, que o caso está finalmente acabado. Mas, no final do poema, ele de repente muda de tom. Vencido pela esperança, ele afirma que o "Amor" ainda pode ser salvo: "Se tivesses entregado tudo a ele,/ Da morte à vida, ainda assim o redimirias."*43

Acho que esta tendência à esperança se tornou arraigada no cérebro humano eras atrás para que nossos antepassados buscassem obstinadamente parceiros em potencial até que expirasse a última faísca de possibilidade.

Uma ligação sexual

"Eu preferia morrer cem vezes a ficar sem o teu doce amor. Eu te amo. Eu te amo desesperadamente. Eu te amo como amo minha própria alma."44 Assim declarou Psiquê ao marido, Eros, em O asno de ouro, romance do século II de Apuleio. "Ardendo de desejo", continua a história, "ela se inclinou e o beijou impulsivamente, impetuosamente, com um beijo depois de outro depois de outro beijo, temerosa de que ele despertasse antes que ela tivesse terminado."45

A poesia de todo o mundo atesta o intenso anseio do amante por união sexual com o amado, outra característica básica do amor romântico.

No Cântico de Salomão, a mulher evoca: "Oh vento norte, desperta. /Vento sul, levanta-te./ Soprai em meu jardim/ e levai minhas fragrâncias./ Deixai que meu amor entre neste jardim/ e coma de seu doce fruto".46 Inanna, rainha da antiga Suméria, ficou extasiada com a sexualidade de Dumuzi, dizendo: "Oh, Dumuzi! Sua plenitude é meu deleite!"47 Mas o mais doce para meus ouvidos é o poema inglês anônimo que lamenta: "Vento oeste, quando deixarás de soprar?/ a chuva fina pode cair,/ Cristo, se minha amada estivesse em meus braços/ E eu novamente em minha cama!"

Freud, assim como muitos eruditos e leigos, sustentava que o desejo sexual é um componente central do amor romântico.48 Não era uma idéia nova. Quem estudou o Kama Sutra, o manual do amor da Índia do século V, sabe que a palavra "love", "amor", vem do sânscrito "Lubh", que significa "desejar".

Certamente faz sentido que as sensações do amor romântico sejam entrelaçadas com o desejo sexual. Afinal, se a paixão romântica evoluiu entre nossos antepassados para motivá-los a concentrar sua energia para o acasalamento em um indivíduo "especial" pelo menos até que a inseminação tenha sido concluída (como sustentarei nos capítulos subseqüentes), então a paixão romântica deve estar relacionada com o desejo sexual.

Os resultados de meu levantamento apóiam esta proposição. Substanciais 73% dos homens e 65% das mulheres têm devaneios com fazer sexo com o amado (Apêndice, nº 34).



Exclusividade sexual

Os amantes também querem exclusividade sexual. Eles não desejam ter seu relacionamento "sagrado" maculado por terceiros. Quando alguém vai para a cama com "apenas um amigo", ele com freqüência não se preocupa muito se o parceiro sexual também está copulando com outro. Mas uma vez que um homem ou uma mulher se apaixonam e começam a ansiar por união emocional com um amado, querem profundamente que seu parceiro permaneça sexualmente fiel — a eles.

Muitas das histórias de amor do mundo refletem esta possessividade sexual, bem como o desejo do amante de manter sua fidelidade sexual. Por exemplo, enquanto separado de Isolda, a Justa, Tristão casou-se com outra mulher com o mesmo nome, Isolda das Brancas Mãos — em grande parte porque esta mulher lhe trazia muito do apelo da amada. Mas Tristão não consegue consumar o casamento. Quando, na lenda árabe, Laila fica noiva de alguém que não era seu amado Majnun, ela também evita o leito nupcial. E cerca de 80% dos homens e 88% das mulheres em meu levantamento concordaram com a afirmativa: "Ser sexualmente fiel é importante quando você está apaixonado" (Apêndice, nº 42).

De todas as propriedades do amor romântico, este anseio por exclusividade sexual é o mais interessante para mim. Provavelmente evoluiu por dois motivos essenciais: para proteger os homens ancestrais de serem traídos e criarem o filho de outro; e para proteger as mulheres ancestrais de perderem para uma rival um marido em potencial e pai para seus filhos. Este desejo por exclusividade sexual permitiu que nossos antepassados protegessem seu precioso DNA enquanto gastavam quase todo o seu tempo e energia cortejando alguém que adoravam.

Mas, junto com o impulso para garantir a fidelidade sexual durante a corte, veio uma característica menos atraente do amor romântico. O "monstro de olhos verdes" de Shakespeare, o ciúme.

Ciúme: a "ama-de-leite do amor"

Em seu livro sobre as regras do amor cortês, Capelão escreveu: "Quem não sente ciúme não é capaz de amar". Ele chamava o ciúme de "ama-de-leite do amor" porque acreditava que ele nutria a chama romântica.49

O sagaz clérigo, como sempre, estava certo. Em toda sociedade em que os antropólogos estudaram a paixão romântica, os dois sexos eram ciumentos, muito ciumentos.50 Como alertou o I Ching, o livro chinês da sabedoria escrito mais de três mil anos atrás, "Um vínculo estreito somente é possível entre duas pessoas; um grupo de três engendra ciúme".

Fonte: (Revista Veja)

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